Poema 1: Lamentos
de África
Ouviste
os gritos de dor atroz, proferidos por meus filhos,
Viste-os
agrilhoados, torturados e aculturados,
Testemunhaste
o suplício de cada inocente africano condenado á escravidão,
Considerado
sem alma, mente ou coração,
Viste a
liberdade ser-lhes roubada ao amargo som do açoite,
E o
fechar dos cadeados das máscaras de folha de flandres
Em que
suas cabeças eram comprimidas,
Cada
vez que ousavam requerer o dom de serem livres,
Livres
como seus deuses os haviam criado,
Livres
para professarem sua fé nos espíritos
De seus
ancestrais e da natureza,
Livres
para falarem suas línguas, há muito, proibidas,
Ioruba,
banto, quimbundo, umbundo, nagô, entre outras,
Ouviste
ecoar nos montes, deserto e oceanos
A
angústia contida do meu povo,
A
clamar incessantemente pelo regresso às terras natais,
Tal
qual um tambor a rebentar todo o silêncio existente,
Viste,
ouviste e sentiste tudo isso,
Porém,
diante dos atos desta dantesca cena, te acovardaste.
Nada
fizeste para resgatar da tristeza tua irmã,
Desde
os tempos da Pangéia.
Amaldiçoei-te
por muitas eras, devido à tua flagrante inércia,
Julguei-te
minha pior inimiga e mais perversa traidora,
Incuti
esta idéia até mesmo na mente de alguns de teus poetas,
Tentei
afastar-me o máximo possível de ti,
Fiz com
que muitas vezes cobriste meu oceano,
O
precioso sangue de teus amados filhos,
Atribuí
a ti a miséria de minhas sofridas nações,
E disso
muito me arrependo, com toda a mais absoluta sinceridade.
Pois,
foste tão vítima quanto eu,
Tiveste
teus filhos tão escravizados quanto os meus,
Tua
gente também foi considerada desprovida de alma,
Tua
cultura também foi considerada indigna,
Tuas
línguas nativas também foram censuradas,
O
guató, o apinajé, o xavante, o Carajás, o Xerente, entre outras,
A grande
maioria de suas tribos também foi arrasada,
Também
foram teus cidadãos chamados “filhos de Caim”,
Tiveste
negados os sagrados direitos à liberdade e à identidade,
Sofreste
como eu toda sorte de injustiças,
E como
eu, foste colonizada, explorada e usurpada.
Oh!
Amada irmã América, unamo-nos agora!
Superemos
os limites oceânicos!
Pois,
somos mais iguais do que se pensa,
Devemos
preservar o pouco que resta de nossas tradições,
Estamos
mais juntas do que nunca,
No som
da capoeira, do jazz, do blues, do samba e do maracatu,
O
sangue de nossos filhos já se misturou,
E a
mistura perpetuou-se ao longo das gerações,
Somos
hoje uma só raça, um só povo.
Glória!
Teçamos
loas intermináveis à miscigenação!
Esta
santa e irrefutável verdade, que é maior que o preconceito,
Glória
à nossa gente que é forte e luta pela igualdade,
Seguindo
o glorioso exemplo de Zumbi e dos demais heróis de Palmares!
Queira
Deus que não voltem os apartheids,
Pois a
segregação não tem, nem nunca teve razão de ser,
Bem
como ocorre com toda forma de escravidão,
Porém,
caso esta barbárie aconteça,
Resistiremos
bravamente, como sempre o fizemos,
Provaremos
que não há raças, crenças, nações ou sexo superior,
Pois,
Deus nos fez iguais e deu-nos o direito de gozar esta igualdade.
Poema 2: Rimas a
João Candido
Som de
sangue rugiu no cais,
Rompendo
açoites, quebrando grilhões,
Som de
sangue rugiu no cais,
Livrando
algumas, abrindo corações.
Som de
sangue rugiu no cais,
Gritos
se ouviram do negro renitente,
Som de
sangue rugiu no cais,
Despertou
o cândido navegante a sua gente
Negro
Cândido, navegante audaz,
Foste
teu povo livrar de quem faz,
Sangue
inocente escorrer sobre o cais.
Negro
Cândido, navegante atroz,
Seja
contigo a glória dos heróis!
Valente
João Cândido, olhai por nós!
Poema 3: Lamúrias
de um Escravo
Trago
no peito um coração cansado,
E
n’alma a dor do banzo lancinante,
Distante
do meu chão, acorrentado,
Sinto
fazer-se eterno cada instante.
Pulsa
em minhas artérias e exilado,
O sangue
d’Áfricas espoliadas,
Corre
em meu olhar oceanizado,
O
pranto das tribos aniquiladas.
Sou
máquina, sou coisa, sou escravo,
Meu
espírito não vale um centavo,
Mas,
muito rende a carne torturada.
Tendo o
ódio a consumir-lhe a vida,
E
mortos os seus sonhos e os seus lares,
Meu
povo inveja a sorte de Palmares.
Poema 4: Lembranças
de um Rei Nagô
Arrancaram-me
do ceio de minha tribo,
Tal
qual se arranca da savana um belo arbusto,
Tal
qual se arranca da leoa o filho augusto.
Colocaram-me
à força num navio,
Que a
uma tumba se frazia semelhante,
Seu
porão era fétido e sufocante.
Açoitaram-me
com a cólera das feras,
Comum
castigo a toda negra gente,
De
tribos várias origens diferentes.
O
açoite era só uma das torturas,
A que éramos
todos submetidos,
O mais
leve dos tormentos infligidos.
Levaram-me
a uma terra estranha,
Uma
pátria que nunca foi minha,
E eu
sequer sabeia que a vinha.
Apartaram-me
da esposa e dos filhos,
Arrancaram-me
a alma e o coração,
Fizeam-no
se dor ou compaixão.
Ataram-me
a negros d’outras partes,
Os
quais a minha língua não sabiam,
Mas,
como eu, choravam e sofriam.
Separaram-nos
em lotes de três dúzias,
Descarregaram
e expuseram-nos em portos,
Quem
dera naquela hora estarmos mortos.
Senhores
alinhados nos compraram,
Conduziram-nos
depressa às suas fazendas,
Como é
duro saber-se coisa e estar à venda!
A
partir desse amaldiçoado instante,
Num
cômodo sem ar fui alojado,
Num
cubículo sem luz fui confinado.
Mudaram
meu nome e religião,
Minha
coroa, trocaram por um grilhão,
Minha
nobreza tornou-se escravidão.
Não era
mais eu rei nem nagô,
Era
agora um escravo e nada mais,
Que
inveja tinha eu dos animais!
Hoje
velho, recolhido na senzala,
Destituído
de minha antiga realiza,
Sem
forçpa e tragado pela tristeza.
Trago
cá, em minha mente uma certeza,
Nem
mesmo o sol da miscigenação,
Extinguirá
de todo a escravidão.
Pois,
ela se ocultará nas consciências,
Sob a
forma vil da discriminação,
E
expressa em atos de segregação.
A marca
indelével do cativo,
Passará
de regação a geração,
A cada
negro nascido nesta nação.
Poema 5: Preto
Sou
preto do gueto,
Sou
preto carvão,
Sou
preto na pele,
Sou
preto tiçao,
Sou
preto na voz,
Preto
no coração.
Sou
preto nos gestos,
Sou
preto na alma,
Sou
preto na fúria,
Sou
preto na calma,
Sou
preto na luta,
Sou
preto na dor.
Sou
preto na guerrra,
Sou
preto na paz,
Sou
preto no amor,
Sou
preto Soweto,
Sou
preto brasilis,
Sou
preto nagô.
Sou
preto na ginga,
Sou bom
na mandinga,
Sou
preto no som,
Sou
preto na umbanda,
Preto
de aruanda,
Sou
preto do bom.
Sou
preto,
Herdeiro
dos filhos da tribos de África,
Descendente
distante das hostes de Zumbi,
E, como
tal, orgulho-me da minha raça,
Orgulho-me
das marcas que ostento,
E do
sangue guerreiro que nas veias carrego,
Sou
preto,
E
proclamo aos quatro ventos a minha negritude,
Tal
qual um eterno quilombola.
Poema 6: A prece do
Africano
Senhor
deus dos desgraçados,
Escutai
minha oração!
Senhor
deus dos desesperados,
Dai-nos
a vossa consolação!
Senhor
deus dos flagelados,
A terra
não mais produz,
Senhor
deus dos desenganados,
É a
fome quem me conduz.
Senhor
deus dos desemparados,
A
guerra levou-me o filho,
Que
clamava por teu auxílio.
Senhor
deus dos discriminados,
Teremos
valor no além?
Em nome
de Cristo, amem.
Poema 7: Elegia às
Águas do Atlântico
Certa
vez,
Em uma
dessas experiências inusitadas,
Lá por
lados distantes de África,
Tomei
um gole da água do Atlântico.
Senti-a
amarga,
Um
gosto de sangue fê-la intangível para lábios humanos,
E
incapaz de saciar a sede de qualquer homem.
O
sangue que se mistura às águas do colossal oceano,
E, ao
coagular, acumula-se sobre seus gigantescos promontórios,
É o
mesmo sangue inocente que se espalhou por todo o globo,
Manchando
a reputação do antes civilizado cidadão europeu,
Quando
este, num ato cruel e desprezível,
Profanou
a honra da nobre, bela, sensual e forte amazona das savanas,
Usurpou-lhe
o coração,
E
escravizou-lhe a alma,
Banhando-a
em sombras,
Mergulhando-a
na obscuridade,
Fazendo-a
navegar á deriva em um profundo e vasto abismo de lágrimas.
Oh!
Misteriosas águas do Atlântico,
Que, um
dia, encerrastes o sonho da humanidade,
Que
outrora fostes o portal de um novo mundo,
Que a
tantos tesouros servistes de refúgio,
Penalizam-me
agora o vosso destino e o vosso estado.
Quantos
mortos sem nome vos têm por campa?
Quantas
vidas interrompidas jazem dispersas na espum de suas ondas?
Quantos
homens, que em suas pátrias eram reis, conduzidos sobre o vosso leito,
amargaram a condição de escravos?
Éreis
festa, vos tornastes luto,
Éreis
sonho, vos tornastes agonia,
Éreis
deusas, vos tornastes carrasco,
Éreis
verso, vos tornastes lápide,
Éreis
poema, vos tornastes epitáfio,
Éreis
ode, vos tornastes elegia,
Éreis
berço, vos tornastes sepulcro.
Poema 8: Chibalo
Do
reino das aflições,
Sou eu,
O rei.
Das
terras de onde vim,
Que, em
mim,
Guardei.
Aos
campos,
Que
hora,
Sou.
O
sangue,
Que
derramei.
“Te
curva, xibalo!
Ao
sabor da ação!”
Me
curvei,
Me curvei.
“Te
deixa, xibalo!
Na
pedra-chão!”
Me
deitei,
Me
deitei.
Não me
canso,
Sem
motivo
Não me
rendo,
Sem
razão.
Não sei
como,
Ainda
vivo.
Mas,
não morre,
A
escravidão.
Guenta
chibalo lida,
Fica
chibalo são,
Cuida
chibalo vida
Deixa
chibalo não.
Escravo
não tem escolha,
Nativo
não é cristão.
Poema 9: A canção
do Magaíza
Comboio
partiu,
Mamana
esperou,
Fumaça
sumiu,
Mufana
chorou.
Magaíza!
Magaíza!
Teu
destino é pedra,
Tua
sorte é sina,
Tua voz
se quebra,
No
interior da mina.
E
quando o candeeiro,
Ilumina
o componde,
Sabes
onde dormes,
Mas, o
sono já se esconde.
Te
lembras da casa,
Que
relegate à solidão.
Te
lembras dos filhos,
Que te
esperam e não sabem,
Se é em
vão.
Alma
funda,
Mina
Rand,
Vida
escula,
Sonho
grande.
Dois
buracos são teus olhos,
D’onde
só se avisa sangue.
Sopro
amargo de vertigem,
Mancha
seca sem origem.
Braço
banto bate bruto,
Antes
que patrão se zangue.
Alma
infante,
Peito
adulto.
Corpo
feito pro cansaço,
Face
oculta do fracasso,
Traga
moço, deixa velho,
Quem no
vago firma o passo.
Quem no
tempo esquece a vida,
Quem de
cave faz a lida.
Comboio
partiu,
Mamana
esperou,
Fumaça
sumiu,
Mufana
chorou,
Micaia
se abriu,
Desastre
chamou.
Magaíza!
Magaíza!
Magaíza!
Poema 10: A partida
do Magaíza
Vai-te
embora, magaíza!
Que foi
servo em Portugal,
Vai
ligeiro, magaíza!
Vai
pras minas de Transval.
Vai-te
logo, magaíza!
Vai
trocar alma por Rand,
Vai
depressa, magaíza!
Leva os
sonhos ao componde.
“Por
que foges, magaíza?
O que
queres, afinal?
Lá das
minas de Transval?”
“Não
escolhe quem precisa,
Onde
vai buscar sustento,
Sua
sina é sofrimento.
Poema 11: O sono do Magaíza
A tarde se finda
Já é quase noite,
Tudo pardce descansar,
Exceto magaíza,
Ainda a sofrer,
Nas minas do johne.
Magaíza é feito cobiça,
Magaíza não para,
Magaíza não pode para,
Não pode faltar diamante,
Nas vestes das damas das cortes,
Não pode faltar a riqueza,
Nos fatros bolsos dos déspotas.
Passam-se duas ou três horas,
E magaíza, enfim, sai da mina,
Olha o céu,
É negro,
Coberto de estrelas negras,
Alumiado por uma lua negra,
Tudo é negro, obscuro,
Na sina infernal de magaíza.
Magaíza vai domir,
Seu sono mortal de contratdo,
Seu sono pesado de escravo,
Seu corpo movido a farinha,
Tomba junto ao solo sem esforço,
E dorme, mas, não descansa,
Pois, descanso é vedao a magaíza.
Magaíza pôe-se a sonhar,
No chão úmido e frio,
Do componde abarrotado,
Sonha com a aldeia que deixou
A cocuana a contar-lhe histórias,
A mamana a cantar-lhe cançoes,
O pai a acompanhá-lo às caçadas,
A esposa a beijá-lo ternamente,
E os filhos a sorrir-lhe, inocentes.
Magaíza, em sonho, chora,
Chora lágrimas de arrependimento,
A revolta, dentro dele, cresce,
Cega-lhe os olhos de mamparra.
Magaíza, ainda em sonho foge,
Esquece-se das minas e dos rands,
Toma o comboio das lembranças,
Embarca na estação da esperança,
E, no caminho de ferro da liberdade,
Regressa ao torrão que o viu nascer.
Mas, sono tem prazo,
E madrugada chama,
Magaíza acorda,
Magaíza levanta-se,
Seu coração banto lamenta,
A ventura onírica a contrastar,
Com os tormentos do seu real calvário.
Poema 12: O retorno
do Magaíza
Parte o
comboio das magaízas,
Rumo às
minas de Transval,
E os
homens-pedra,
Que
nele jazem,
Saem em
busca de outro,
Diamantes
e até de carvão,
Mas, ao
regressarem ás casas,
Levarão
nas surradas sacolas,
Vultosas
quantidades de solidão,
Grandes
somas de decepção,
E
incontáveis gemas de desilusão.
Anos se
passam,
Parte
um novo comboio,
Desta
vez, das minas de Transval,
Tomando
a direção oposta,
À que o
outro comboio tomara,
Arrancando,
anos atrás,
O
magaíza do seio de sua terra.
Segue
impassível o comboio,
Carregando
gente de toda classe,
Homens
e mulheres,
Adultos
e crianças,
Moços e
velhos,
Pobres,
ricos e remediados,
Das
mais diversas etnias,
Pátrias,
línguas e culturas.
No
entanto, entre os passageiros da composição,
Um
único homem se distingue,
Não
pelo luxo da riqueza,
Mas,
pela condição de miséria,
Apenas
um velho magaíza,
Solitário,
chama a atenção,
Por,
nos olhos bantos ostentar,
Um
misto de alívio e esperança.
Chega o
comboio ao seu destino,
Célere
salta o magaíza,
Todo
pressa e ansiedade,
Procurando
no país que hora vê,
Resquícios
da nação onde nasceu,
Da
pátria que, há dez anos, deixou,
Com a
alma prenhe de sonhos,
Pátria
à qual agora ele retorna,
Com o
coração petrificado,
E o
espírito carbonizado,
Por
eras geológicas da realidade.
Vede, o
magaíza caminha,
Pisa o
solo materno,
Onde
outrora vicejavam algodoais,
Cruza
as ruas sinuosas,
Dos
bairros pobres e distantes,
E
lançando um olhar sobre o horizonte,
Procura
a casa de caniço,
Onde
intacto guardou o seu passado,
Porém,
em meio às cinzas e aos escombros,
Não
consegue reconhecer o antigo lar.
Entre
atônitas moças andar ilhas,
Idosas
frágeis e maltrapilhas,
E
crianças abandonadas nas calçadas,
Que
mendigam o pão de cada dia,
Busca o
magaíza a sua esposa,
Procura
o magaíza seus três filhos,
Entretanto,
ante pilhas de cadáveres,
Paredes
de um monumento à intolerância,
Não avist
a companheira a quem se dava,
Nem
ouve a voz dos filhos, seu esteio.
Então,
Perdido
e só,
Vencido
pela dor do desespero,
Desespero
de se ver a sós no mundo,
O
magaíza chora copiosamente,
E see
pranto de suruma evanecente,
Traz à
tona o sofrer de todo um povo.
Poema 13: A Morte
do Magaíza
“Morreu
um negro na mina,”
“Um
negro?”
“sim,
Um
negro,”
“Mas,
Que
negro?”
“O
negro.”
“Onde
morreu o negro?”
“Na
mina,”
“Na
mina?”
“Sim,
Na
mina.”
“Mas,
Que
mina?”
“A
mina.”
“Morreu
no fosso um magaíza,”
“Um
magaíza?”
“Sim,
Um
magaíza,”
“Mas,
Que
magaíza?”
“O
magaíza.”
Cá pros
lados de África,
Onde a
terra se faz irrigada,
Por
sangue e suor de xibalos,
Todo
negro,
É
somente negro,
Toda
mina,
É
apenas mina,
E todo
magaíza,
É,
simplesmente ma-ga-í-za.
Poema 14: A
História do velho Makhuwa
Em
Muipiti,
Um
Velho makhuwa,
Deixa-se
à beira da praia.
Seu
pranto é convulsivo,
E suas
lágrimas cristalinas,
Confundem-se
com as águas do mar.
Sua voz
é saudosa,
Tão
saudosa que se mistura,
Ao murmúrio
sombrio do vento.
Sua
face é triste,
Seu
olhar, vacilante,
Sua
alma, obscura.
Fita o
velho atordoado,
Os
infinitos caminhos do oceano,
E,
comovido, diz o makhuwa:
“trouxeram-me
à luz nesta terra,
Nasci,
de certo, makhuwa,
Entretanto,
desde miúdo,
Atou-me,
à força, na fronte,
Uma
casta de vis invasores,
A
alcunha de Luso-africano,
Com a
qual me fui acostumando,
Da qual
não me pude separar,
Nem
mesmo quando fui autorizado.
Trabalhei
em campos de algodão,
Puxei
riquexó cá na ilha,
Sofre
nas minas do rand.
Sangrei
nas celas da capital,
Suei
nas maxambas de São Tomé,
Inclinei-me
no peso da estiva.
Dancei
ao som do suplício,
Nas
balsas dos contratados,
Dispondo
a vida em sacrifício.
Fui
feito pingente nos andaimes,
Meti
uns versos no jornal,
Lutei
na Guerra da Independência.
Perdi
amigos e família,
Tive a
palhota incendiada,
E hoje
não valho mais nada.
Pisei
em mina,
Perdi
as pernas,
Perdi
meu nome.
Dormi
na rua,
Vivi à
míngua,
Chorei
de fome.
E hoje
torno,
Ao lar
antigo,
E posso
ver.
Nas
belas casas,
As
frias marcas,
Do meu
sofrer.
Se, por
fineza,
O rio
do tempo,
Me
permitir.
Quero
meus dias,
De
agonias,
Findar
aqui.
E após
sua história contar,
Exausto,
expira o homem,
No solo
da velha província.
O
tempo, que tudo concede,
E as
almas dos bravos protege,
Atende-lhe
o último desejo.
Poema 15 : A negra
e a morte
No
inóspito rincão,
Por
entre as densas savanas,
Em meio
a vorazes quizombas,
Lá se
vai a negra.
Levando
prese às costas,
Na sua
rota capulana,
Tinginda
por gotas de sangue,
O
fresco signo da morte.
Escorrem-lhe
dos meigos olhos,
Em
abundantes círculos de agonia,
Os
parcos restos de esperança,
Que
ainda na vida alimentava.
Vai ela
enterrar sua filha,
Ferida
de morte na guerra,
Na
guerra que os homens criaram,
Sem que
ela soubesse o motivo.
Vai ela
enterrar sua filha,
Punida
por ser inocente,
Na
terra onde todos se matam,
Num
chão onde a paz é quimera.
Na cova
em que faz sepultada,
Sua
filha, promessa, destino,
Sepulta
a negra seus sonhos,
Os
únicos bens que inda tinha.
E após
os instantes de angústia,
Regressa
a negra á palhota,
E
espera sozinha na esteira,
Da
morte a boléia final.
Poema 16: Ambanine
Ambanine,
minha preta, ambanine,
Ambanine,
para sempre, vou–me embora,
Ambanine,
minha preta, ambanine,
Vou sem
vida, vou sem sonhos, vou-me agora.
Ambanine,
minha preta, ambanine,
Sinto a
morte do herói que se aproxima,
Ambanine,
minha preta, ambanine,
A nação
que constrói não mais me estima.
Sei que
choras, minha preta, vou-me cedo,
Sei que
peco, mas, meu verso me redime,
Pois, o
exílio fez morada no meu ser.
Acompanharam-me
a angústia, a dor e o medo,
Mas,
meu fado a ti obriga-me a dizer,
Ambanine,
minha preta, ambanine,
Poema 17: SINA
Quereis
encontrar-me?
Desejais
decifrar-me?
Almejais
traduzir-me?
Ide,
poeta!
Pelas
vastas extensões da Terra!
E
procurai-me por toda parte!
Adentrai
os navios negreiros!
Embarcai
nas balsas de contratados!
Tomai
os comboios de magaízas!
Visitai
os compondes abarrotados!
Reconhecei-me
nos bantustões da intolerância!
Avistai-me
nos guetos da segregação!
Observai-me
nas aldeias incendiadas!
Detectai-me
nos campos de refugiados!
Constatai-me
nos celeiros sem grãos!
Senti-me
na agonia dos xibalos!
Que,
com lágrimas e suores de condenados!
Irrigam-me
as terras castigadas!
Lá, em
meio à minha prole aflita,
Indubitavelmente,
me achareis,
A
sofrer de mãe a desditosa sina.
Poema 18: Evocação
à Liberdade
“Liberdade!”
Dizem
os homens nos subúrbios.
“Liberdade!”
Cantam
as tribos nas florestas.
“Liberdade!”
Cantam
os pássaros nas árvores.
“Liberdade!”
Sussurram
os galhos dos arbustos.
“Liberdade!”
Sopra o
vento nas cidades.
O povo
clama,
“Liberdade!”
As
máquinas soam,
“Liberdade!”
Pulsam
as veias,
“Liberdade!”
E só
tu, surda, não os compreendes,
Permanecendo
impassível,
Ante as
lágrimas dos teus filhos
E o
saldo cruel dos teus massacres.
Só tu,
África, não entendes,
O
clamor da tua gente,
Cansada
de guerras e despotismos.
Só tu,
berço da humanidade,
Só tu
não sabes o que é se livre.
Poema 19: Das
Áfricas
Ao
longe,
Uma
xipalapala soa,
Convocando
meus versos,
A se
reunirem em teu louvor,
Concatenando-se,
Sob a
doce harmonia de uma timbila,
Num
misterioso canto tribal.
África,
Oh!
África,
Enganam-se
os que te veem uma,
Desconhecem-te
os que ignoram,
As
inúmeras áfricas,
Que
compartilham o teu espaço.
És
múltipla,
E
múltipla te devem cantar os poetas,
Múltipla
te devem retratar os sábios,
Múltipla
te devem celebrar os artitas,
Diversas
são tuas gentes.
Vários
são teu mitos,
Plurais
são os teus cantos,
Muitos
são teus anseios,
Inúmeras
são tuas línguas,
Incontáveis
são tuas crenças.
Portanto,
Múltiplas,
Diversas,
Várias,
Plurais,
Muitas,
Inúmeras,
E
incontáveis,
Devem
ser as odes,
E as
elegias,
A ti ou
a vós,
Que és
ou sois,
A
pátria primeira,
Da
humana desumana raça.
Poema 20: De África
para si mesma
Chamam-te
vítima,
Mas não
o és,
Na
verdade,
Jamais
o foste.
Foste
guerreira,
Nos
tempos árduos da colonização,
Te mostraste
destemida,
Nas
áridas eras da escravidão.
Não te
deixaste abater,
Pela
chaga mortal da segregação,
Não te
permitiste corromper,
Por
arremedos de civilização.
Agora,
dizem-te vítima,
E tu o
rótulo aceitas passivamente,
E o
tomas para ti,
Como se
verdade irrefutável fosse.
Morta,
Eis que
te vejo assim,
Pois,
calada, aceitas o julgo,
E,
apática, te acovardas.
Traída
pelos arcos que brandiste,
Atacada
pelas flechas que fabricaste,
Vês
crescer a semente da opressão,
E
dormes teu sono mítico, sem mistérios.
Por trás dos altos sóis libertadores,
Forjou-se
a nova afronta no teu chão,
Os
filhos teus do atraso a ti condenam,
Os
filhos da ganância teus te exploram.
E,
apocalíptica, a cena já se esboça,
Zagaia
contra zagaia,
Catana
contra catana,
África
contra África.
87 comentários:
Nossa!
que lindos esses poemas!
São esses que vamos trabalhar em sala de aula?
Lindos poemas sobre a África!
Poemas lindíssimos!
Vale a pena ler!
poemas lindos...
bom poema
do João
nao li todos :D
gostei muito do poema numero 4 wm
poemas bom e muito gostoso de ler
john adler
Foi Legal,Todos Os Poemas EStão Lindos <3
esses poemas muito interesantes
esses poemas são interesantes
ruiiiiiiiiiiiiiiiimmmmmmmmmmmmmmm
gostei muito dos poemas leidiane
esses poemas são muito interesantes
Muito interessante.:)
esses poemas são muito interesantes
OS Poemas bonito guilherme
esses poemas são muito interesantes
Muito interessante.
esses poemas são mts enterresantes , porque tipo: ajuda ter uma nossão do que a africa é. naum so de sofrimentos , doenças etc ,mostra que na africa a culturas e religioes e mts outras coisas que somos pesquisar ou for la iremos .entao iremos ver que na africa naum a so sofrimento mas a coisas mts lindas , enterressantes que podemos observar e pesquisar.
jasmine creier :jheniphy carvalho
Esses poemas são interessantissimos.
Os Poemas são enteressantes e legal mostra o que a ÁFRICA e so em sofrimento e probresa mais em cunturas e allegria BRENDA THALLYTA
KELLYTA MYLENNA
Nós Amamos Todos EStes POemas,principalmente o que nois copio o rimas a joao candido love love <3
E MUITO GOSTOSO DE LER ESES POEMAS
JOHN ADLER
Todos Os Poemas EStão LIndos,E São Todos MUitos BOns Que falam Sobre a Africa,e a Africa e MUito Importante <3
Nome:Roberta&Sara
os poemas sao muito bons e lindos ajuda na apredizagem dos alunos, ajuda muito e enteressante pra quem que aprender mais sobre a africa . :) :-)
gabriela gomes
Muito legais esses poemas.eles retratam nao so as partes ruins da africa mais tambem as partes boas como a cultura e etc..
ass:jessyca vitoria
Poemas Lindos!! ^^
muito bom
poemas lindos
poemas mt bons
Ass:César,Alan,Maxsuel
Lindo Poema!Sobre os Sentimentos
Bom eu n consegui entender oq o poema quis dizer m,mas acho k se os professores explicarem oq o autor quis dizer , eu particularmente n consegui ver sentido no poema.
*Beatriz Santos* @.@
Poemas magníficos!! :))
esse poemas e muito bom para apredizagem ,e interessante pra quem gosta desses poemas e são muitos legais :) :-0
jessika lorrayne
esses poemas são muito interesantes
de:Kiosefy Samuel
e
de;Gustavo Vargas
Poemas Lindos mt legal
Ass:César,Alan,Maxsuel
Muito bom.Esses poemas sao muito criativos e eu gostei muito.
sao muito legais esses poemas e tambem e muito lindo fala sobre a africa leidiane e wedson
Amamos Todos Os POemas ,E ACHAMOS ELES mUITO LEGAAAAAAAAAAAAAIS <3
AMEI LOVE LOVE
LOVEEEEEEEEEEEEEEEEEE
LOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOVE <3
Esse poema que a gente copio foii muito sinistro veyy; ooouuu ameii
o poema e muito legal tirando os erros
kassia ludmila de freita oliveira
gostei muito dos poemas
gabriela gomes :)
gostei do poema muito divertido kkk weriks
eu gostei muito do poema.. o poema 5 e muito bonito..kkkkkkkkkkkk wilis wândaique costa cruz
mayara e caroline disse que gostaram muito do poema e acharam muito interesante
POEMAS LINDOS GOSTEI... S2
e bom os poemas fabricio muito lidão
poemas interesantes
ESSES poemas são muito intereçante principalmente o do RIMAS DO JOÃO CANDIDO :)
DE:LUAN MENDES RODRIGUES
poemas super legais
E INTERESSANTES
eu gostei muito do poema rimas a joao candido achei interesante as falas dele ;maria andressa
os poemas sao muittos interesantes principalmente o poema Rimas a joao candido
E INTERESSANTE ALLEF
Os poemas são muito interesantes
esses poemas sao muito interesante
;p amaei os poemas
ler foi bom
mas escrever foi ruim wandersom
Amei os poemas sao muito interesante DE NAYANNE
ficou super otimos mas oque eu mas gostei foi o de rimas a joao de candida assinados lilit de morais e adrieny oliveira da silva
e um pouco bom e da pra ler
e mt lindo esse poema*-*
eo caraii kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
simony ferreira disse
nossa!esses poemas sao muitos lindos lindissimos cada um dos mais bonitos gostei muito#<3
MUITO BOM ASSINADO WILLIAN
,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,
poemas mais tenso e lindo esses poemas
estão muitos legal esses poemas
marcelo cardoso
esse poemas sao muito interresante
eu gosto +ou- de poemas
Daniel Henrique
MUITO BOM ASSINADO ADRIENY G3
o poema e muito lindo
ELOISA<3
mt bom
mc duduzinho
esse poema e muito bom
thiagão os kamikse do gueto
um pouco legal
sao muito bons e noix ae truta
e toix. Daniel
EU GOSTEIIIIIIIIIIIIIII MUIITOO MESMO EU QUERO APRENDER MUITO MAIS DE TUDO E DEUS VAI MIN AJUDAR E OS PROFESSORES TAMBEM GOSTEI MUITO DO PROGETO ISSO A GENTE VAI APRENDER E PASSA DE ANO PASA SABENDO DE TUDO<3 <3 <3 LINDOSSSSSSSSSSSSS!
ELOISA???
LINDISSIMOS!<3
ana simony ferreira
ESSES POEMAS SAO MUITOS LINDO?
eloisa
ADRIE
GOSTEI DOS POEMA E DO PROGETO TA SENO HUM POCO RUIM PQ NAO ESTAMOS INO PA QUADRA MAIS EU ISPERO QUE EU MIDEI BEM NISO ISTAO DE PARA BENS COM ESI PROGETO
GABRIELLY CRISTINA
lindos<3 100% poemas lindossssssssssssss
ana simony
~ Wow show de bola gostei Poemas lindíssimos!(y) gostei dmais <3
eu ameii muitos os poemas lindos<3 simony
esses poemas sao muitos linda
fico muito top e achei mais top ainda o 5texto
oque eu entendi que o altor dos poemas "herbane lucácius" quiz dizer foi que : devemos observar naum so a cor ou mas tbm as culturas , as lendas , as tradiçoes etc ...
esse e o pq deu ter gostado dos poemas que ele fez .
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