AFROFILIA de Hebane Lucácius

Poema 1: Lamentos de África

Ouviste os gritos de dor atroz, proferidos por meus filhos,
Viste-os agrilhoados, torturados e aculturados,
Testemunhaste o suplício de cada inocente africano condenado á escravidão,
Considerado sem alma, mente ou coração,
Viste a liberdade ser-lhes roubada ao amargo som do açoite,
E o fechar dos cadeados das máscaras de folha de flandres
Em que suas cabeças eram comprimidas,
Cada vez que ousavam requerer o dom de serem livres,
Livres como seus deuses os haviam criado,
Livres para professarem sua fé nos espíritos
De seus ancestrais e da natureza,
Livres para falarem suas línguas, há muito, proibidas,
Ioruba, banto, quimbundo, umbundo, nagô, entre outras,
Ouviste ecoar nos montes, deserto e oceanos
A angústia contida do meu povo,
A clamar incessantemente pelo regresso às terras natais,
Tal qual um tambor a rebentar todo o silêncio existente,
Viste, ouviste e sentiste tudo isso,
Porém, diante dos atos desta dantesca cena, te acovardaste.
Nada fizeste para resgatar da tristeza tua irmã,
Desde os tempos da Pangéia.

Amaldiçoei-te por muitas eras, devido à tua flagrante inércia,
Julguei-te minha pior inimiga e mais perversa traidora,
Incuti esta idéia até mesmo na mente de alguns de teus poetas,
Tentei afastar-me o máximo possível de ti,
Fiz com que muitas vezes cobriste meu oceano,
O precioso sangue de teus amados filhos,
Atribuí a ti a miséria de minhas sofridas nações,
E disso muito me arrependo, com toda a mais absoluta sinceridade.

Pois, foste tão vítima quanto eu,
Tiveste teus filhos tão escravizados quanto os meus,
Tua gente também foi considerada desprovida de alma,
Tua cultura também foi considerada indigna,
Tuas línguas nativas também foram censuradas,
O guató, o apinajé, o xavante, o Carajás, o Xerente, entre outras,
A grande maioria de suas tribos também foi arrasada,
Também foram teus cidadãos chamados “filhos de Caim”,
Tiveste negados os sagrados direitos à liberdade e à identidade,
Sofreste como eu toda sorte de injustiças,
E como eu, foste colonizada, explorada e usurpada.

Oh! Amada irmã América, unamo-nos agora!
Superemos os limites oceânicos!
Pois, somos mais iguais do que se pensa,
Devemos preservar o pouco que resta de nossas tradições,
Estamos mais juntas do que nunca,
No som da capoeira, do jazz, do blues, do samba e do maracatu,
O sangue de nossos filhos já se misturou,
E a mistura perpetuou-se ao longo das gerações,
Somos hoje uma só raça, um só povo.

Glória!
Teçamos loas intermináveis à miscigenação!
Esta santa e irrefutável verdade, que é maior que o preconceito,
Glória à nossa gente que é forte e luta pela igualdade,
Seguindo o glorioso exemplo de Zumbi e dos demais heróis de Palmares!
Queira Deus que não voltem os apartheids,
Pois a segregação não tem, nem nunca teve razão de ser,
Bem como ocorre com toda forma de escravidão,
Porém, caso esta barbárie aconteça,
Resistiremos bravamente, como sempre o fizemos,
Provaremos que não há raças, crenças, nações ou sexo superior,
Pois, Deus nos fez iguais e deu-nos o direito de gozar esta igualdade.
  

 Poema 2: Rimas a João Candido

Som de sangue rugiu no cais,
Rompendo açoites, quebrando grilhões,
Som de sangue rugiu no cais,
Livrando algumas, abrindo corações.

Som de sangue rugiu no cais,
Gritos se ouviram do negro renitente,
Som de sangue rugiu no cais,
Despertou o cândido navegante a sua gente

Negro Cândido, navegante audaz,
Foste teu povo livrar de quem faz,
Sangue inocente escorrer sobre o cais.

Negro Cândido, navegante atroz,
Seja contigo a glória dos heróis!
Valente João Cândido, olhai por nós!


Poema 3: Lamúrias de um Escravo

Trago no peito um coração cansado,
E n’alma a dor do banzo lancinante,
Distante do meu chão, acorrentado,
Sinto fazer-se eterno cada instante.

Pulsa em minhas artérias e exilado,
O sangue d’Áfricas espoliadas,
Corre em meu olhar oceanizado,
O pranto das tribos aniquiladas.

Sou máquina, sou coisa, sou escravo,
Meu espírito não vale um centavo,
Mas, muito rende a carne torturada.

Tendo o ódio a consumir-lhe a vida,
E mortos os seus sonhos e os seus lares,
Meu povo inveja a sorte de Palmares.

  
Poema 4: Lembranças de um Rei Nagô

Arrancaram-me do ceio de minha tribo,
Tal qual se arranca da savana um belo arbusto,
Tal qual se arranca da leoa o filho augusto.

Colocaram-me à força num navio,
Que a uma tumba se frazia semelhante,
Seu porão era fétido e sufocante.

Açoitaram-me com a cólera das feras,
Comum castigo a toda negra gente,
De tribos várias origens diferentes.

O açoite era só uma das torturas,
A que éramos todos submetidos,
O mais leve dos tormentos infligidos.

Levaram-me a uma terra estranha,
Uma pátria que nunca foi minha,
E eu sequer sabeia que a vinha.

Apartaram-me da esposa e dos filhos,
Arrancaram-me a alma e o coração,
Fizeam-no se dor ou compaixão.

Ataram-me a negros d’outras partes,
Os quais a minha língua não sabiam,
Mas, como eu, choravam e sofriam.

Separaram-nos em lotes de três dúzias,
Descarregaram e expuseram-nos em portos,
Quem dera naquela hora estarmos mortos.

Senhores alinhados nos compraram,
Conduziram-nos depressa às suas fazendas,
Como é duro saber-se coisa e estar à venda!

A partir desse amaldiçoado instante,
Num cômodo sem ar fui alojado,
Num cubículo sem luz fui confinado.

Mudaram meu nome e religião,
Minha coroa, trocaram por um grilhão,
Minha nobreza tornou-se escravidão.

Não era mais eu rei nem nagô,
Era agora um escravo e nada mais,
Que inveja tinha eu dos animais!

Hoje velho, recolhido na senzala,
Destituído de minha antiga realiza,
Sem forçpa e tragado pela tristeza.

Trago cá, em minha mente uma certeza,
Nem mesmo o sol da miscigenação,
Extinguirá de todo a escravidão.

Pois, ela se ocultará nas consciências,
Sob a forma vil da discriminação,
E expressa em atos de segregação.
A marca indelével do cativo,
Passará de regação a geração,
A cada negro nascido nesta nação.

  
Poema 5: Preto

Sou preto do gueto,
Sou preto carvão,
Sou preto na pele,
Sou preto tiçao,
Sou preto na voz,
Preto no coração.

Sou preto nos gestos,
Sou preto na alma,
Sou preto na fúria,
Sou preto na calma,
Sou preto na luta,
Sou preto na dor.

Sou preto na guerrra,
Sou preto na paz,
Sou preto no amor,
Sou preto Soweto,
Sou preto brasilis,
Sou preto nagô.

Sou preto na ginga,
Sou bom na mandinga,
Sou preto no som,
Sou preto na umbanda,
Preto de aruanda,
Sou preto do bom.

Sou preto,
Herdeiro dos filhos da tribos de África,
Descendente distante das hostes de Zumbi,
E, como tal, orgulho-me da minha raça,
Orgulho-me das marcas que ostento,
E do sangue guerreiro que nas veias carrego,
Sou preto,
E proclamo aos quatro ventos a minha negritude,
Tal qual um eterno quilombola.

  
Poema 6: A prece do Africano

Senhor deus dos desgraçados,
Escutai minha oração!
Senhor deus dos desesperados,
Dai-nos a vossa consolação!

Senhor deus dos flagelados,
A terra não mais produz,
Senhor deus dos desenganados,
É a fome quem me conduz.

Senhor deus dos desemparados,
A guerra levou-me o filho,
Que clamava por teu auxílio.

Senhor deus dos discriminados,
Teremos valor no além?
Em nome de Cristo, amem.

  
Poema 7: Elegia às Águas do Atlântico

Certa vez,
Em uma dessas experiências inusitadas,
Lá por lados distantes de África,
Tomei um gole da água do Atlântico.

Senti-a amarga,
Um gosto de sangue fê-la intangível para lábios humanos,
E incapaz de saciar a sede de qualquer homem.

O sangue que se mistura às águas do colossal oceano,
E, ao coagular, acumula-se sobre seus gigantescos promontórios,
É o mesmo sangue inocente que se espalhou por todo o globo,
Manchando a reputação do antes civilizado cidadão europeu,
Quando este, num ato cruel e desprezível,
Profanou a honra da nobre, bela, sensual e forte amazona das savanas,
Usurpou-lhe o coração,
E escravizou-lhe a alma,
Banhando-a em sombras,
Mergulhando-a na obscuridade,
Fazendo-a navegar á deriva em um profundo e vasto abismo de lágrimas.

Oh! Misteriosas águas do Atlântico,
Que, um dia, encerrastes o sonho da humanidade,
Que outrora fostes o portal de um novo mundo,
Que a tantos tesouros servistes de refúgio,
Penalizam-me agora o vosso destino e o vosso estado.

Quantos mortos sem nome vos têm por campa?
Quantas vidas interrompidas jazem dispersas na espum de suas ondas?
Quantos homens, que em suas pátrias eram reis, conduzidos sobre o vosso leito, amargaram a condição de escravos?

Éreis festa, vos tornastes luto,
Éreis sonho, vos tornastes agonia,
Éreis deusas, vos tornastes carrasco,
Éreis verso, vos tornastes lápide,
Éreis poema, vos tornastes epitáfio,
Éreis ode, vos tornastes elegia,
Éreis berço, vos tornastes sepulcro.
  

Poema 8: Chibalo

Do reino das aflições,
Sou eu,
O rei.

Das terras de onde vim,
Que, em mim,
Guardei.

Aos campos,
Que hora,
Sou.

O sangue,
Que derramei.

“Te curva, xibalo!
Ao sabor da ação!”

Me curvei,
Me curvei.

“Te deixa, xibalo!
Na pedra-chão!”

Me deitei,
Me deitei.

Não me canso,
Sem motivo

Não me rendo,
Sem razão.

Não sei como,
Ainda vivo.

Mas, não morre,
A escravidão.

Guenta chibalo lida,
Fica chibalo são,
Cuida chibalo vida
Deixa chibalo não.

Escravo não tem escolha,
Nativo não é cristão.


Poema 9: A canção do Magaíza

Comboio partiu,
Mamana esperou,
Fumaça sumiu,
Mufana chorou.

Magaíza!

Magaíza!

Teu destino é pedra,
Tua sorte é sina,
Tua voz se quebra,
No interior da mina.

E quando o candeeiro,
Ilumina o componde,
Sabes onde dormes,
Mas, o sono já se esconde.

Te lembras da casa,
Que relegate à solidão.

Te lembras dos filhos,
Que te esperam e não sabem,
Se é em vão.

Alma funda,
Mina Rand,
Vida escula,
Sonho grande.

Dois buracos são teus olhos,
D’onde só se avisa sangue.

Sopro amargo de vertigem,
Mancha seca sem origem.

Braço banto bate bruto,
Antes que patrão se zangue.

Alma infante,
Peito adulto.

Corpo feito pro cansaço,
Face oculta do fracasso,
Traga moço, deixa velho,
Quem no vago firma o passo.

Quem no tempo esquece a vida,
Quem de cave faz a lida.

Comboio partiu,
Mamana esperou,
Fumaça sumiu,
Mufana chorou,
Micaia se abriu,
Desastre chamou.

Magaíza!

Magaíza!

Magaíza!
  

Poema 10: A partida do Magaíza

Vai-te embora, magaíza!
Que foi servo em Portugal,
Vai ligeiro, magaíza!
Vai pras minas de Transval.

Vai-te logo, magaíza!
Vai trocar alma por Rand,
Vai depressa, magaíza!
Leva os sonhos ao componde.

“Por que foges, magaíza?
O que queres, afinal?
Lá das minas de Transval?”

“Não escolhe quem precisa,
Onde vai buscar sustento,
Sua sina é sofrimento.

  
Poema 11: O sono do Magaíza

A tarde se finda
Já é quase noite,
Tudo pardce descansar,
Exceto magaíza,
Ainda a sofrer,
Nas minas do johne.

Magaíza é feito cobiça,
Magaíza não para,
Magaíza não pode para,
Não pode faltar diamante,
Nas vestes das damas das cortes,
Não pode faltar a riqueza,
Nos fatros bolsos dos déspotas.

Passam-se duas ou três horas,
E magaíza, enfim, sai da mina,
Olha o céu,
É negro,
Coberto de estrelas negras,
Alumiado por uma lua negra,
Tudo é negro, obscuro,
Na sina infernal de magaíza.

Magaíza vai domir,
Seu sono mortal de contratdo,
Seu sono pesado de escravo,
Seu corpo movido a farinha,
Tomba junto ao solo sem esforço,
E dorme, mas, não descansa,
Pois, descanso é vedao a magaíza.

Magaíza pôe-se a sonhar,
No chão úmido e frio,
Do componde abarrotado,
Sonha com a aldeia que deixou
A cocuana a contar-lhe histórias,
A mamana a cantar-lhe cançoes,
O pai a acompanhá-lo às caçadas,
A esposa a beijá-lo ternamente,
E os filhos a sorrir-lhe, inocentes.

Magaíza, em sonho, chora,
Chora lágrimas de arrependimento,
A revolta, dentro dele, cresce,
Cega-lhe os olhos de mamparra.

Magaíza, ainda em sonho foge,
Esquece-se das minas e dos rands,
Toma o comboio das lembranças,
Embarca na estação da esperança,
E, no caminho de ferro da liberdade,
Regressa ao torrão que o viu nascer.

Mas, sono tem prazo,
E madrugada chama,
Magaíza acorda,
Magaíza levanta-se,
Seu coração banto lamenta,
A ventura onírica a contrastar,
Com os tormentos do seu real calvário.

  
Poema 12: O retorno do Magaíza

Parte o comboio das magaízas,
Rumo às minas de Transval,
E os homens-pedra,
Que nele jazem,
Saem em busca de outro,
Diamantes e até de carvão,
Mas, ao regressarem ás casas,
Levarão nas surradas sacolas,
Vultosas quantidades de solidão,
Grandes somas de decepção,
E incontáveis gemas de desilusão.

Anos se passam,
Parte um novo comboio,
Desta vez, das minas de Transval,
Tomando a direção oposta,
À que o outro comboio tomara,
Arrancando, anos atrás,
O magaíza do seio de sua terra.

Segue impassível o comboio,
Carregando gente de toda classe,
Homens e mulheres,
Adultos e crianças,
Moços e velhos,
Pobres, ricos e remediados,
Das mais diversas etnias,
Pátrias, línguas e culturas.

No entanto, entre os passageiros da composição,
Um único homem se distingue,
Não pelo luxo da riqueza,
Mas, pela condição de miséria,
Apenas um velho magaíza,
Solitário, chama a atenção,
Por, nos olhos bantos ostentar,
Um misto de alívio e esperança.

Chega o comboio ao seu destino,
Célere salta o magaíza,
Todo pressa e ansiedade,
Procurando no país que hora vê,
Resquícios da nação onde nasceu,
Da pátria que, há dez anos, deixou,
Com a alma prenhe de sonhos,
Pátria à qual agora ele retorna,
Com o coração petrificado,
E o espírito carbonizado,
Por eras geológicas da realidade.

Vede, o magaíza caminha,
Pisa o solo materno,
Onde outrora vicejavam algodoais,
Cruza as ruas sinuosas,
Dos bairros pobres e distantes,
E lançando um olhar sobre o horizonte,
Procura a casa de caniço,
Onde intacto guardou o seu passado,
Porém, em meio às cinzas e aos escombros,
Não consegue reconhecer o antigo lar.

Entre atônitas moças andar ilhas,
Idosas frágeis e maltrapilhas,
E crianças abandonadas nas calçadas,
Que mendigam o pão de cada dia,
Busca o magaíza a sua esposa,
Procura o magaíza seus três filhos,
Entretanto, ante pilhas de cadáveres,
Paredes de um monumento à intolerância,
Não avist a companheira a quem se dava,
Nem ouve a voz dos filhos, seu esteio.

Então,
Perdido e só,
Vencido pela dor do desespero,
Desespero de se ver a sós no mundo,
O magaíza chora copiosamente,
E see pranto de suruma evanecente,
Traz à tona o sofrer de todo um povo.


Poema 13: A Morte do Magaíza

“Morreu um negro na mina,”
“Um negro?”
“sim,
Um negro,”
“Mas,
Que negro?”
“O negro.”

“Onde morreu o negro?”
“Na mina,”
“Na mina?”
“Sim,
Na mina.”
“Mas,
Que mina?”
“A mina.”

“Morreu no fosso um magaíza,”
“Um magaíza?”
“Sim,
Um magaíza,”
“Mas,
Que magaíza?”
“O magaíza.”

Cá pros lados de África,
Onde a terra se faz irrigada,
Por sangue e suor de xibalos,
Todo negro,
É somente negro,
Toda mina,
É apenas mina,
E todo magaíza,
É, simplesmente ma-ga-í-za.

  
Poema 14: A História do velho Makhuwa

Em Muipiti,
Um Velho makhuwa,
Deixa-se à beira da praia.

Seu pranto é convulsivo,
E suas lágrimas cristalinas,
Confundem-se com as águas do mar.

Sua voz é saudosa,
Tão saudosa que se mistura,
Ao murmúrio sombrio do vento.

Sua face é triste,
Seu olhar, vacilante,
Sua alma, obscura.

Fita o velho atordoado,
Os infinitos caminhos do oceano,
E, comovido, diz o makhuwa:

“trouxeram-me à luz nesta terra,
Nasci, de certo, makhuwa,
Entretanto, desde miúdo,

Atou-me, à força, na fronte,
Uma casta de vis invasores,
A alcunha de Luso-africano,

Com a qual me fui acostumando,
Da qual não me pude separar,
Nem mesmo quando fui autorizado.

Trabalhei em campos de algodão,
Puxei riquexó cá na ilha,
Sofre nas minas do rand.

Sangrei nas celas da capital,
Suei nas maxambas de São Tomé,
Inclinei-me no peso da estiva.

Dancei ao som do suplício,
Nas balsas dos contratados,
Dispondo a vida em sacrifício.

Fui feito pingente nos andaimes,
Meti uns versos no jornal,
Lutei na Guerra da Independência.

Perdi amigos e família,
Tive a palhota incendiada,
E hoje não valho mais nada.

Pisei em mina,
Perdi as pernas,
Perdi meu nome.

Dormi na rua,
Vivi à míngua,
Chorei de fome.

E hoje torno,
Ao lar antigo,
E posso ver.

Nas belas casas,
As frias marcas,
Do meu sofrer.

Se, por fineza,
O rio do tempo,
Me permitir.

Quero meus dias,
De agonias,
Findar aqui.

E após sua história contar,
Exausto, expira o homem,
No solo da velha província.

O tempo, que tudo concede,
E as almas dos bravos protege,
Atende-lhe o último desejo.


Poema 15 : A negra e a morte

No inóspito rincão,
Por entre as densas savanas,
Em meio a vorazes quizombas,
Lá se vai a negra.

Levando prese às costas,
Na sua rota capulana,
Tinginda por gotas de sangue,
O fresco signo da morte.

Escorrem-lhe dos meigos olhos,
Em abundantes círculos de agonia,
Os parcos restos de esperança,
Que ainda na vida alimentava.

Vai ela enterrar sua filha,
Ferida de morte na guerra,
Na guerra que os homens criaram,
Sem que ela soubesse o motivo.

Vai ela enterrar sua filha,
Punida por ser inocente,
Na terra onde todos se matam,
Num chão onde a paz é quimera.

Na cova em que faz sepultada,
Sua filha, promessa, destino,
Sepulta a negra seus sonhos,
Os únicos bens que inda tinha.

E após os instantes de angústia,
Regressa a negra á palhota,
E espera sozinha na esteira,
Da morte a boléia final.


Poema 16: Ambanine

Ambanine, minha preta, ambanine,
Ambanine, para sempre, vou–me embora,
Ambanine, minha preta, ambanine,
Vou sem vida, vou sem sonhos, vou-me agora.

Ambanine, minha preta, ambanine,
Sinto a morte do herói que se aproxima,
Ambanine, minha preta, ambanine,
A nação que constrói não mais me estima.

Sei que choras, minha preta, vou-me cedo,
Sei que peco, mas, meu verso me redime,
Pois, o exílio fez morada no meu ser.

Acompanharam-me a angústia, a dor e o medo,
Mas, meu fado a ti obriga-me a dizer,
Ambanine, minha preta, ambanine,

  
Poema 17: SINA


Quereis encontrar-me?
Desejais decifrar-me?
Almejais traduzir-me?

Ide, poeta!
Pelas vastas extensões da Terra!
E procurai-me por toda parte!

Adentrai os navios negreiros!
Embarcai nas balsas de contratados!
Tomai os comboios de magaízas!

Visitai os compondes abarrotados!
Reconhecei-me nos bantustões da intolerância!
Avistai-me nos guetos da segregação!

Observai-me nas aldeias incendiadas!
Detectai-me nos campos de refugiados!
Constatai-me nos celeiros sem grãos!

Senti-me na agonia dos xibalos!
Que, com lágrimas e suores de condenados!
Irrigam-me as terras castigadas!

Lá, em meio à minha prole aflita,
Indubitavelmente, me achareis,
A sofrer de mãe a desditosa sina.
  

Poema 18: Evocação à Liberdade

“Liberdade!”
Dizem os homens nos subúrbios.

“Liberdade!”
Cantam as tribos nas florestas.

“Liberdade!”
Cantam os pássaros nas árvores.

“Liberdade!”
Sussurram os galhos dos arbustos.

“Liberdade!”
Sopra o vento nas cidades.

O povo clama,
“Liberdade!”

As máquinas soam,
“Liberdade!”

Pulsam as veias,
“Liberdade!”

E só tu, surda, não os compreendes,
Permanecendo impassível,

Ante as lágrimas dos teus filhos
E o saldo cruel dos teus massacres.

Só tu, África, não entendes,
O clamor da tua gente,
Cansada de guerras e despotismos.

Só tu, berço da humanidade,
Só tu não sabes o que é se livre.
  

Poema 19: Das Áfricas


Ao longe,
Uma xipalapala soa,
Convocando meus versos,
A se reunirem em teu louvor,
Concatenando-se,
Sob a doce harmonia de uma timbila,
Num misterioso canto tribal.

África,
Oh! África,
Enganam-se os que te veem uma,
Desconhecem-te os que ignoram,
As inúmeras áfricas,
Que compartilham o teu espaço.

És múltipla,
E múltipla te devem cantar os poetas,
Múltipla te devem retratar os sábios,
Múltipla te devem celebrar os artitas,

Diversas são tuas gentes.
Vários são teu mitos,
Plurais são os teus cantos,
Muitos são teus anseios,
Inúmeras são tuas línguas,
Incontáveis são tuas crenças.

Portanto,
Múltiplas,
Diversas,
Várias,
Plurais,
Muitas,
Inúmeras,
E incontáveis,
Devem ser as odes,
E as elegias,
A ti ou a vós,
Que és ou sois,
A pátria primeira,
Da humana desumana raça.


Poema 20: De África para si mesma

Chamam-te vítima,
Mas não o és,
Na verdade,
Jamais o foste.

Foste guerreira,
Nos tempos árduos da colonização,
Te mostraste destemida,
Nas áridas eras da escravidão.

Não te deixaste abater,
Pela chaga mortal da segregação,
Não te permitiste corromper,
Por arremedos de civilização.

Agora, dizem-te vítima,
E tu o rótulo aceitas passivamente,
E o tomas para ti,
Como se verdade irrefutável fosse.

Morta,
Eis que te vejo assim,
Pois, calada, aceitas o julgo,
E, apática, te acovardas.

Traída pelos arcos que brandiste,
Atacada pelas flechas que fabricaste,
Vês crescer a semente da opressão,
E dormes teu sono mítico, sem mistérios.
 Por trás dos altos sóis libertadores,
Forjou-se a nova afronta no teu chão,
Os filhos teus do atraso a ti condenam,
Os filhos da ganância teus te exploram.

E, apocalíptica, a cena já se esboça,
Zagaia contra zagaia,
Catana contra catana,
África contra África.



87 comentários:

Anônimo disse...

Nossa!
que lindos esses poemas!
São esses que vamos trabalhar em sala de aula?

Anônimo disse...

Lindos poemas sobre a África!

Unknown disse...

Poemas lindíssimos!
Vale a pena ler!

Anônimo disse...

poemas lindos...

Anônimo disse...

bom poema
do João
nao li todos :D

Anônimo disse...

gostei muito do poema numero 4 wm

Anônimo disse...

poemas bom e muito gostoso de ler

john adler

Roberta&Sara disse...

Foi Legal,Todos Os Poemas EStão Lindos <3

kiosefy disse...

esses poemas muito interesantes

Anônimo disse...

esses poemas são interesantes

Anônimo disse...

ruiiiiiiiiiiiiiiiimmmmmmmmmmmmmmm

Anônimo disse...

gostei muito dos poemas leidiane

kiosefy samuel disse...

esses poemas são muito interesantes

Camila Goulart Oliveira disse...

Muito interessante.:)

kiosefy samuel disse...

esses poemas são muito interesantes

Anônimo disse...

OS Poemas bonito guilherme

kiosefy samuel disse...

esses poemas são muito interesantes

Anônimo disse...

Muito interessante.

Anônimo disse...

esses poemas são mts enterresantes , porque tipo: ajuda ter uma nossão do que a africa é. naum so de sofrimentos , doenças etc ,mostra que na africa a culturas e religioes e mts outras coisas que somos pesquisar ou for la iremos .entao iremos ver que na africa naum a so sofrimento mas a coisas mts lindas , enterressantes que podemos observar e pesquisar.
jasmine creier :jheniphy carvalho

Anônimo disse...

Esses poemas são interessantissimos.

Anônimo disse...

Os Poemas são enteressantes e legal mostra o que a ÁFRICA e so em sofrimento e probresa mais em cunturas e allegria BRENDA THALLYTA



KELLYTA MYLENNA





Anônimo disse...

Nós Amamos Todos EStes POemas,principalmente o que nois copio o rimas a joao candido love love <3

Anônimo disse...

E MUITO GOSTOSO DE LER ESES POEMAS

JOHN ADLER

Anônimo disse...

Todos Os Poemas EStão LIndos,E São Todos MUitos BOns Que falam Sobre a Africa,e a Africa e MUito Importante <3


Nome:Roberta&Sara

Anônimo disse...

os poemas sao muito bons e lindos ajuda na apredizagem dos alunos, ajuda muito e enteressante pra quem que aprender mais sobre a africa . :) :-)




gabriela gomes

Anônimo disse...

Muito legais esses poemas.eles retratam nao so as partes ruins da africa mais tambem as partes boas como a cultura e etc..


ass:jessyca vitoria

Anônimo disse...

Poemas Lindos!! ^^

Anônimo disse...

muito bom
poemas lindos
poemas mt bons
Ass:César,Alan,Maxsuel

Nathalia Atamer G2 disse...

Lindo Poema!Sobre os Sentimentos

Anônimo disse...

Bom eu n consegui entender oq o poema quis dizer m,mas acho k se os professores explicarem oq o autor quis dizer , eu particularmente n consegui ver sentido no poema.

*Beatriz Santos* @.@

Laylla Borges disse...

Poemas magníficos!! :))

Anônimo disse...

esse poemas e muito bom para apredizagem ,e interessante pra quem gosta desses poemas e são muitos legais :) :-0



jessika lorrayne

Anônimo disse...

esses poemas são muito interesantes

de:Kiosefy Samuel
e
de;Gustavo Vargas

Anônimo disse...

Poemas Lindos mt legal
Ass:César,Alan,Maxsuel

Ana Luiza disse...

Muito bom.Esses poemas sao muito criativos e eu gostei muito.

Anônimo disse...

sao muito legais esses poemas e tambem e muito lindo fala sobre a africa leidiane e wedson

Anônimo disse...

Amamos Todos Os POemas ,E ACHAMOS ELES mUITO LEGAAAAAAAAAAAAAIS <3

Anônimo disse...

AMEI LOVE LOVE

Anônimo disse...

LOVEEEEEEEEEEEEEEEEEE

Anônimo disse...

LOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOVE <3

Anônimo disse...

Esse poema que a gente copio foii muito sinistro veyy; ooouuu ameii

kassia ludmila de freitas oliveira disse...

o poema e muito legal tirando os erros
kassia ludmila de freita oliveira





Anônimo disse...

gostei muito dos poemas




gabriela gomes :)

Anônimo disse...

gostei do poema muito divertido kkk weriks

Anônimo disse...

eu gostei muito do poema.. o poema 5 e muito bonito..kkkkkkkkkkkk wilis wândaique costa cruz

Anônimo disse...

mayara e caroline disse que gostaram muito do poema e acharam muito interesante

Anônimo disse...

POEMAS LINDOS GOSTEI... S2

Anônimo disse...

e bom os poemas fabricio muito lidão

yan vitor e gabriela alves disse...

poemas interesantes


Anônimo disse...

ESSES poemas são muito intereçante principalmente o do RIMAS DO JOÃO CANDIDO :)







DE:LUAN MENDES RODRIGUES

Anônimo disse...

poemas super legais

ALLEF GUILHERME disse...

E INTERESSANTES

Anônimo disse...

eu gostei muito do poema rimas a joao candido achei interesante as falas dele ;maria andressa

joao victor / pedro disse...

os poemas sao muittos interesantes principalmente o poema Rimas a joao candido

Anônimo disse...

E INTERESSANTE ALLEF

Anônimo disse...

Os poemas são muito interesantes

Anônimo disse...

esses poemas sao muito interesante

Anônimo disse...

;p amaei os poemas

Anônimo disse...

ler foi bom

mas escrever foi ruim wandersom

Anônimo disse...

Amei os poemas sao muito interesante DE NAYANNE

Anônimo disse...

ficou super otimos mas oque eu mas gostei foi o de rimas a joao de candida assinados lilit de morais e adrieny oliveira da silva

Anônimo disse...

e um pouco bom e da pra ler

Anônimo disse...

e mt lindo esse poema*-*
eo caraii kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Anônimo disse...

simony ferreira disse
nossa!esses poemas sao muitos lindos lindissimos cada um dos mais bonitos gostei muito#<3

Anônimo disse...

MUITO BOM ASSINADO WILLIAN

Unknown disse...


,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,
poemas mais tenso e lindo esses poemas

Anônimo disse...

estão muitos legal esses poemas
marcelo cardoso

Unknown disse...

esse poemas sao muito interresante

Anônimo disse...

eu gosto +ou- de poemas

Daniel Henrique

Anônimo disse...

MUITO BOM ASSINADO ADRIENY G3

Anônimo disse...

o poema e muito lindo
ELOISA<3

Anônimo disse...

mt bom

mc duduzinho

Anônimo disse...

esse poema e muito bom
thiagão os kamikse do gueto

Anônimo disse...

um pouco legal

Anônimo disse...

sao muito bons e noix ae truta

e toix. Daniel

Anônimo disse...

EU GOSTEIIIIIIIIIIIIIII MUIITOO MESMO EU QUERO APRENDER MUITO MAIS DE TUDO E DEUS VAI MIN AJUDAR E OS PROFESSORES TAMBEM GOSTEI MUITO DO PROGETO ISSO A GENTE VAI APRENDER E PASSA DE ANO PASA SABENDO DE TUDO<3 <3 <3 LINDOSSSSSSSSSSSSS!

Anônimo disse...


ELOISA???

Anônimo disse...

LINDISSIMOS!<3

ana simony ferreira

Anônimo disse...


ESSES POEMAS SAO MUITOS LINDO?






eloisa

Anônimo disse...

ADRIE

Anônimo disse...

GOSTEI DOS POEMA E DO PROGETO TA SENO HUM POCO RUIM PQ NAO ESTAMOS INO PA QUADRA MAIS EU ISPERO QUE EU MIDEI BEM NISO ISTAO DE PARA BENS COM ESI PROGETO
GABRIELLY CRISTINA

Anônimo disse...

lindos<3 100% poemas lindossssssssssssss
ana simony

Unknown disse...

~ Wow show de bola gostei Poemas lindíssimos!(y) gostei dmais <3

Anônimo disse...

eu ameii muitos os poemas lindos<3 simony

Anônimo disse...



esses poemas sao muitos linda

Unknown disse...

fico muito top e achei mais top ainda o 5texto

jasmine creier g1 disse...

oque eu entendi que o altor dos poemas "herbane lucácius" quiz dizer foi que : devemos observar naum so a cor ou mas tbm as culturas , as lendas , as tradiçoes etc ...
esse e o pq deu ter gostado dos poemas que ele fez .